sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Governo chileno destaca casais homossexuais em campanha de TV sobre acordo de união civil

Propaganda sofre resistências de camadas conservadoras da sociedade por mostrar casal de homens dando 'selinho'; veja os vídeos


O governo do Chile lançou uma campanha na televisão para promover a nova lei de Acordo de União Civil (da sigla AUC), que outorga direitos de reconhecimento legal como família para qualquer casal com ao menos dois anos de convivência. Santiago optou por destacar casais homossexuais nos vídeos e sofre resistência de camadas conservadoras do país.
O vídeo usa o slogan-hastag #EstamosDeAcuerdo – “estamos de acordo”, um trocadilho com o termo “estamos de novios”, usado por noivos em alguns países de idioma espanhol – e começa justamente com um selinho gay. Logo um deles, diz: “estamos de acordo em que o amor é igual para todos”… “e para todas”, completa uma moça lésbica, na cena seguinte.
Reprodução
Propaganda no Chile começa com um selinho entre dois homens; vídeo provocou polêmica

A lei do AUC não foi criada somente para homossexuais, mas, ao reconhecer as famílias, inclui direitos de regulação patrimonial e herança em caso de morte do convivente.
Contudo, o Ministério da Justiça decidiu reforçar os benefícios para os casais homossexuais na campanha televisiva. Segundo a ministra titular da pasta, Javiera Blanco, “o spot não deixa os casais heterossexuais de fora, mas buscou evidenciar casos de pessoas que antes estavam completamente desprotegidas e agora possuem uma lei que os ampara”.
O AUC foi promulgado em abril deste ano pelo governo chileno, após quatro anos de trâmite parlamentar – foi lançado em 2011 pelo presidente Sebastián Piñera, que não conseguiu apoio de seu próprio setor político, sendo aprovado somente este ano, já no segundo mandato de Michelle Bachelet.
Veja a propaganda:

A reação negativa por parte da direita foi perdendo espaço, principalmente depois da aprovação da chamada Lei Zamudio (lei antidiscriminação, criada também durante o governo de Piñera). A norma foi criada após o assassinato de um jovem gay por um grupo neonazista e dá penas de prisão para atos que configurem homofobia, racismo, xenofobia, sexismo, entre outros tipos de preconceito.
Reações evangélicas
Tanto é assim que a única reação pública negativa vinda da classe política partiu do senador conservador Iván Moreira, conhecido por ser um antigo defensor do ditador Augusto Pinochet (1973-1990) e porta-voz da comunidade evangélica, e ainda assim se ateve a detalhes, como o horário em que o comercial é exibido. “Estamos estudando um recurso na Justiça para ao menos impor alguma restrição horária para esse conteúdo, que nos parece impróprio para menores”, disse.
A deputada comunista Karol Cariola, em entrevista para a Rádio Nuevo Mundo, respondeu a Moreira e disse que “o vídeo não mostra nenhuma provocadora, só beijos, só amor, e eu confio em que os nossos Tribunais sabem diferenciar um conteúdo sexual de uma simples demonstração de carinho”.
Nesse sentido, cabe destacar que a do AUC não é a primeira campanha governamental com cenas de beijos gays. No ano passado, o Ministério da Saúde lançou um spot para promover o uso de camisinhas durante o verão, que incluía beijos de língua – e, nesse caso, o vídeo teve restrição horária. A campanha, aliás, foi relançada este mês, com o mesmo vídeo.
Outra reação contrária ao spot governamental foi a do pastor Javier Soto, líder evangélico de Valparaíso (capital legislativa do país), que promete também um recurso na Justiça por incitação da adoção por parte de casais homossexuais. “O AUC não dá direito de adoção aos casais homossexuais, e o vídeo mostra um casal de lésbicas com um filho, o que é ilegal”, reclamou Soto.
Campanha contra o HIV, com beijo de língua gay, foi relançada junto com propaganda do AUC

Em conversa com a reportagem, o advogado Óscar Rementería, porta-voz do Movilh (Movimento de Integração e Liberação Homossexual), alegou que “o vídeo não diz que a criança em questão é adotada, e poderia ser filha biológica de uma das duas, o que permitiria que sua guarda fosse dada a uma das mães com ou sem o AUC”.
Para Rementería, o recurso de Soto visa “criar uma jurisprudência que depois se imponha como obstáculo para a busca de novos direitos para os homossexuais, por exemplo, podendo ser usada contra o livro ‘Nicolás Tiene Dos Papás’”. O advogado lembrou que o livro infantil lançado no ano passado, numa iniciativa conjunta entre o Movilh e o governo chileno, teve como um dos principais contestadores o mesmo pastor Javier Soto, que conseguiu postergar a distribuição da obra nos jardins de infância chilenos por alguns meses, através de liminares, em casos que depois foram julgados improcedentes.
Fonte: Opera Mundi

Um comentário:

  1. Pouco a pouco, os direitos humanos avançam, apesar da enorme resistência dos conservadores e reacionários, graças à luta contínua e árdua dos militantes político-sociais. Muito mais haveremos de conquistar.

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