Redação (*) | São Paulo - 14/10/2015 - 11h45
Na abertura do congresso da CUT, ex-presidente uruguaio comenta atual momento político e econômico brasileiro: "a única luta que se perde é a que se abandona"
Destaque da abertura do congresso da CUT, na noite de
terça-feira (13/10), em São Paulo, o ex-presidente do Uruguai José Mujica,
atual senador, fez referência ao momento difícil vivido pelo Brasil, receitando
persistência e unidade.
"Eu
sei que vocês, brasileiros, estão passando por um momento difícil. Mas durante
a minha vida aprendi uma coisa fundamental: a única luta que se perde é a que
se abandona."
Mujica defendeu transparência na administração pública e nos balanços das empresas privadas. |
Exaltado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
chamado de "dom Pepe" pela presidente brasileira, Dilma Rousseff,
Mujica disse que é preciso avançar na unidade e na integração sul-americana
como forma de fazer frente ao capitalismo globalizado.
O ex-presidente diz reconhecer as dificuldades diante de um mundo no qual impera o poder do capital financeiro, mas ressalta que enfrentar essa realidade pressupõe aumentar o potencial da América Latina. "Não estou olhando para o meu mundo, porque tenho 80 anos, estou olhando para os que estão por vir."
Além disso, o uruguaio defendeu a criação de
universidades integradas como forma de potencializar a produção de inteligência
no continente. "Já chegamos tarde à era industrial. Não podemos ficar para
trás na era do conhecimento e da informação, que vai definir o futuro",
alertou. "Isso não significa hipotecar a pátria nem perder nossos
sentimentos de nacionalidade, mas construir uma casa maior, que possa proteger
a todos".
Dilma cumprimenta Pepe Mujica, convidado especial da abertura do 12º Concut, em São Paulo |
Segundo
ele, é preciso se preocupar com o salário, direitos e democracia, mas também
pensar no amanhã. "Temos de lembrar às futuras gerações que somos
responsáveis pelo mundo em que vivemos." Da mesma forma, observou, os
jovens de hoje precisam saber o que já aconteceu.
"A
liberdade é fruto da dor dos lutadores sociais que vieram antes de nós. O que
se conquistou não caiu do céu. É fruto do heroísmo de gerações de lutadores
sociais que nos precederam." Por isso, é preciso lutar pela democracia,
"que está longe de ser perfeita".
O líder
uruguaio criticou a chamada cultura de mercado, que obriga as pessoas a
correrem "como loucos". E disse ainda que os trabalhadores devem
lutar por salários melhores, mas não devem se iludir. "A verdadeira
pobreza é gastar a vida preocupado em viver acumulando, acumulando, acumulando.
É preciso fazer as coisas que você gosta e ama. Se você não conseguir a
felicidade com pouco, nunca a conseguirá."
Mujica
defendeu transparência na administração pública e nos balanços das empresas
privadas. "O Estado tem de se encarregar de mitigar as
desigualdades", diz Mujica, acrescentando: "Desde sempre, quando você
põe a mão no bolso de um poderoso para cobrar impostos, acaba por ganhar um
inimigo de classe".
Ao fazer menção às diferenças nas jornadas de trabalho ao
redor do mundo, o ex-presidente observou que os analistas econômicos apontam a
luta sindical por redução como um fator que afeta a competitividade.
"Enquanto houver desigualdade nas jornadas e nos direitos, não há como
competir, Então se impõe o desafio de lutar para que haja uma única jornada de
trabalho em todo o mundo".
Fonte: Opera Mundi
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