Monique
Oliveira | Brasileiros | São Paulo - 20/11/2015 - 17h00
Pesquisa global aponta que, no Brasil e em outros 25 países onde a interrupção voluntária da gravidez é criminalizada, a disponibilidade do medicamento misoprostol diminuiu as complicações por aborto inseguro
Sete milhões de mulheres são internadas por ano por
complicações de saúde provocadas por abortos clandestinos. Também todos os
anos 22
mil morrem pelo mesmo motivo. O
dado é de um grande estudo feito em 2012 em mais de 26 países em
desenvolvimento, dentre eles o Brasil, e publicado
em agosto de 2015 no Journal
of Obstetrics & Gynaecology (BJOG).
Os pesquisadores que assinaram o levantamento estão
vinculados ao The Guttmacher Institute,
uma organização internacional com sede nos Estados Unidos que há mais de 50
anos estuda e pesquisa direitos reprodutivos.
Para compor o trabalho atual, os cientistas
vasculharam dados e estudos de sistemas públicos e privados de cada país. O evantamento considerou dados de 2012 é um dos poucos a tentar entender em que
estado e em quais circunstâncias essas mulheres chegam ao hospital e quantas
elas são.
Dos 26 países estudados, 24 forneceram dados de
atendimento pós-aborto dos setores público e privado. México e Camboja
incluíram apenas o setor público.
Os pesquisadores ainda fazem uma ressalva
importante. Os dados foram coletados em sistemas de saúde e não
contabilizam mulheres que precisaram de ajuda, mas não procuraram o hospital.
Além do Brasil, outros países da América Latina
inclusos no estudo foram Argentina, Chile, Costa Rica, República Dominicana,
México, Colômbia, Peru, Guatemala e Venezuela.
Na África, dados de Burkina Faso, Etiópia, Kenya,
Malawi, Ilhas Maurício, Nigéria, Ruanda, Senegal, Tanzânia e Uganda foram
contemplados e, na Ásia, foram estudados os sistemas de saúde do Sri Lanka,
Bangladesh, Paquistão, Camboja, Myanmar e Filipinas.
O conjunto de dados evidencia que, a cada dia,
cerca de 800 mulheres morrem por causas relacionadas à gravidez e ao nascimento
que poderiam ter sido prevenidas. Desse número, o aborto clandestino
responde por cerca de 8 a 15% das mortes e figura dentre as principais causas
de morte materna no mundo.
Outras muitas mulheres, no entanto, sobrevivem mas
não obtêm apoio e tratamento adequado após o aborto. Dentre os países
estudados, o Brasil foi o que menos tratou as mulheres após procedimentos
clandestinos. A taxa é de 2.4 para cada 1.000 mulheres. O Paquistão, na outra
ponta, foi o país que mais atendeu esse grupo, com uma taxa de 14.6 a cada
1.000.
As baixas taxas, como a vista no Brasil, segundo o
estudo, podem ter duas explicações: uma é a de que a mortalidade dessas
mulheres é baixa, já que elas não precisaram ir ao hospital após o
procedimento. A outra é que, de alguma maneira, elas não têm acesso ao médico
no pós-aborto.
O baixo atendimento ao pós-aborto no Brasil segue
uma tendência latino-americana. No estudo, as idas de mulheres a hospitais
depois do aborto diminuíram de 7.7 para cada 1.000 mulheres em idade
reprodutiva (15 a 44 anos) no ano de 2005 para 5.3 em 2012.
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