quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A cada ano, 7 milhões de mulheres são internadas por complicações de abortos clandestinos; 22 mil morrem, diz estudo

Monique Oliveira | Brasileiros | São Paulo - 20/11/2015 - 17h00

Pesquisa global aponta que, no Brasil e em outros 25 países onde a interrupção voluntária da gravidez é criminalizada, a disponibilidade do medicamento misoprostol diminuiu as complicações por aborto inseguro



Sete milhões de mulheres são internadas por ano por complicações de saúde provocadas por abortos clandestinos. Também todos os anos 22 mil morrem pelo mesmo motivo. O dado é de um grande estudo feito em 2012 em mais de 26 países em desenvolvimento, dentre eles o Brasil, e publicado em agosto de 2015 no Journal of Obstetrics & Gynaecology (BJOG).

Os pesquisadores que assinaram o levantamento estão vinculados ao The Guttmacher Institute, uma organização internacional com sede nos Estados Unidos que há mais de 50 anos estuda e pesquisa direitos reprodutivos. 

Para compor o trabalho atual, os cientistas vasculharam dados e estudos de sistemas públicos e privados de cada país. O evantamento considerou dados de 2012 é um dos poucos a tentar entender em que estado e em quais circunstâncias essas mulheres chegam ao hospital e quantas elas são. 

Dos 26 países estudados, 24 forneceram dados de atendimento pós-aborto dos setores público e privado. México e Camboja incluíram apenas o setor público.

Os pesquisadores ainda fazem uma ressalva importante. Os dados foram coletados em sistemas de saúde e não contabilizam mulheres que precisaram de ajuda, mas não procuraram o hospital.

Além do Brasil, outros países da América Latina inclusos no estudo foram Argentina, Chile, Costa Rica, República Dominicana, México, Colômbia, Peru, Guatemala e Venezuela.

Na África, dados de Burkina Faso, Etiópia, Kenya, Malawi, Ilhas Maurício, Nigéria, Ruanda, Senegal, Tanzânia e Uganda foram contemplados e, na Ásia, foram estudados os sistemas de saúde do Sri Lanka, Bangladesh, Paquistão, Camboja, Myanmar e Filipinas.
O conjunto de dados evidencia que, a cada dia, cerca de 800 mulheres morrem por causas relacionadas à gravidez e ao nascimento que poderiam ter sido prevenidas. Desse número, o aborto clandestino responde por cerca de 8 a 15% das mortes e figura dentre as principais causas de morte materna no mundo.

Outras muitas mulheres, no entanto, sobrevivem mas não obtêm apoio e tratamento adequado após o aborto. Dentre os países estudados, o Brasil foi o que menos tratou as mulheres após procedimentos clandestinos. A taxa é de 2.4 para cada 1.000 mulheres. O Paquistão, na outra ponta, foi o país que mais atendeu esse grupo, com uma taxa de 14.6 a cada 1.000.

As baixas taxas, como a vista no Brasil, segundo o estudo, podem ter duas explicações: uma é a de que a mortalidade dessas mulheres é baixa, já que elas não precisaram ir ao hospital após o procedimento. A outra é que, de alguma maneira, elas não têm acesso ao médico no pós-aborto.
O baixo atendimento ao pós-aborto no Brasil segue uma tendência latino-americana. No estudo, as idas de mulheres a hospitais depois do aborto diminuíram de 7.7 para cada 1.000 mulheres em idade reprodutiva (15 a 44 anos) no ano de 2005 para 5.3 em 2012.

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