FONTE: BBC BRASIL, 27/12/201416h28
Pessoas com albinismo
enfrentam preconceito e morte na Tanzânia. Recentemente, uma nova campanha foi
lançada para tentar pôr fim a sequestros e assassinatos que aterrorizam os
cerca de 30 mil albinos que vivem no país. A BBC conversou com alguns deles.
O pescador Mtobi
Namigambo vive na ilha de Ukerewe, na Tanzânia. Situada a três horas de
distância de Mwanza, segunda maior cidade do país, a ilha remota já foi tido
como um Santuário para albinos, mas hoje a situação mudou. Um dos filhos de
Namigambo, May Mosi, com quatro anos de idade, é albino. Quando tinha três
meses de idade, escapou de uma tentativa de sequestro.
"Tinha ido
pescar no lago. (Minha esposa e as crianças) estavam sozinhas na casa quando
foram atacadas", conta o pai. "Ela pulou pela janela e correu com
May, em busca de um local seguro, deixando as outras duas crianças para trás -
ela não sofreram nada".
"Os agressores estavam à procura de May", diz a esposa do pescador. "Meu marido estava fora pescando e eles sabiam disso. Por isso vieram. Após eu pular pela janela, eles ainda vieram atrás de mim e eu gritei por socorro. Só desistiram quando eu acordei os vizinhos".
"Os agressores estavam à procura de May", diz a esposa do pescador. "Meu marido estava fora pescando e eles sabiam disso. Por isso vieram. Após eu pular pela janela, eles ainda vieram atrás de mim e eu gritei por socorro. Só desistiram quando eu acordei os vizinhos".
Comércio Lucrativo
O albinismo é um
distúrbio congênito caracterizado pela ausência de pigmento na pele, cabelos e
olhos devido a uma deficiência na produção de melanina pelo organismo. Em alguns
casos, o distúrbio também provoca problemas de visão. Ele é raro, afetando uma
em cada 17 mil pessoas aproximadamente.
No Brasil, por
exemplo, haveria (embora não haja dados oficiais) entre 10 mil e 12 mil pessoas
com albinismo. Entre elas, está o compositor e multi-instrumentista Hermeto
Paschoal, reverenciado por músicos de jazz em todo o mundo.
Pouco presente no
mundo ocidental, o albinismo é comum na África Subsaariana. Na Tanzânia e em
outros países africanos, especialmente no leste do continente, albinos sofrem
perseguições. Em algumas regiões, são tidos como demoníacos e perigosos. Na
Tanzânia, alguns acreditam que poções feitas utilizando partes dos corpos dos
albinos trazem sorte e riqueza. Por isto, mais de 70 albinos foram mortos no
país nos últimos três anos. Segundo grupos que fazem campanha em defesa dos
albinos, apenas dez pessoas foram presas em consequência desses assassinatos. No
caso mais recente, em maio deste ano, uma mulher foi morta a golpes de machado.
Campanhas
Nos últimos anos,
houve várias iniciativas para tentar conscientizar a população e romper
preconceitos e superstições em torno do albinismo. Em 2012, na África do Sul,
uma modelo albina foi destaque no continente quando desfilou pelas passarelas
da Africa Fashion Week.
Na Tanzânia, o governo também lançou campanhas de conscientização, mas o problema persiste, especialmente em regiões remotas como a ilha Ukerewe, onde vivem o menino May e sua família. Pessoas albinas enfrentam grande preconceito em áreas rurais.
Na Tanzânia, o governo também lançou campanhas de conscientização, mas o problema persiste, especialmente em regiões remotas como a ilha Ukerewe, onde vivem o menino May e sua família. Pessoas albinas enfrentam grande preconceito em áreas rurais.
"Nós apelamos ao
governo por mais iniciativas para educar a comunidade aqui (na ilha)", diz
Namigambo, pai de May. "No passado, as autoridades faziam seminários sobre
albinismo. Faziam muita diferença, mas agora não mais", ele comenta. A ONG
Under the Same Sun, que atua junto à população albina da ilha, diz que o lugar
não é tão seguro como alguns imaginam.
Alfred Kapole, presidente da sucursal regional da Tanzania Albinism Society, nativo da ilha, foi obrigado a fugir para Mwanza. "Ele é um dos primeiros albinos cujo caso chegou aos tribunais após um líder local ter tentado matá-lo para ficar com seu cabelo", diz Vicky Ntetema, diretora da ONG Under the Same Sun. Ntetema explica que esse tipo de experiência é comum entre albinos no país.
Alfred Kapole, presidente da sucursal regional da Tanzania Albinism Society, nativo da ilha, foi obrigado a fugir para Mwanza. "Ele é um dos primeiros albinos cujo caso chegou aos tribunais após um líder local ter tentado matá-lo para ficar com seu cabelo", diz Vicky Ntetema, diretora da ONG Under the Same Sun. Ntetema explica que esse tipo de experiência é comum entre albinos no país.
Clientes Ricos
No centro da
cidadezinha de Sengerema, a 60 km de Mwanza, uma estátua mostra um casal que
não tem albinismo segurando um bebê albino. A mãe da criança coloca na cabeça
do filho um chapéu de abas largas, para protegê-lo do sol. O monumento também
traz 139 nomes de pessoas albinas que foram mortas, atacadas ou cujos corpos
foram roubados de covas.
Um representante da sociedade de albinos de Sengerema, Mashaka Benedict, disse à BBC que mesmo pessoas com certo nível educacional acreditam que partes dos corpos dos albinos podem trazer riqueza. "Se isso é verdade, por que não somos ricos?", ele pergunta. E acrescenta: pessoas importantes estão por trás do "comércio da morte". É por isso que pouquíssimas foram presas, acusadas ou condenadas, ele diz.
Um representante da sociedade de albinos de Sengerema, Mashaka Benedict, disse à BBC que mesmo pessoas com certo nível educacional acreditam que partes dos corpos dos albinos podem trazer riqueza. "Se isso é verdade, por que não somos ricos?", ele pergunta. E acrescenta: pessoas importantes estão por trás do "comércio da morte". É por isso que pouquíssimas foram presas, acusadas ou condenadas, ele diz.
"Como poderia um
pobre oferecer US$ 10 mil por um pedaço de um cadáver? Os envolvidos são
empresários e políticos".
A polícia, por sua
vez, diz que faz o que pode. Cerca de 70 pessoas com albinismo vivem na ilha de
Ukerewe.
"São casos
complicados porque a maioria dos incidentes ocorre em regiões remotas onde não
há eletricidade, por exemplo", diz o chefe de polícia de Mwanza, Valentino
Mlowola. "Isso dificulta a identificação dos infratores durante a
noite". "Investigamos cada caso e cada alegação, mas não é
simples".
Apesar das
dificuldades, ativistas persistem na luta para combater o preconceito e a
ignorância. Em um evento organizado recentemente para promover os direitos dos
albinos, uma artista com albinismo cantava: "Estamos sendo mortos como
animais. Por favor, reze por nós".
LEIA MAIS:
ALBINOS SÃO MUTILADOS
E ASSASSINADOS EM PAÍSES AFRICANOS
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/10/1355974-albinos-sao-alvo-de-mutilacoes-e-assassinatos-em-paises-africanos.shtml
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