terça-feira, 3 de novembro de 2015

Ao representar mulher como objeto, mídia ajuda a justificar abusos, diz pesquisadora britânica

Carolina de Assis e Dodô Calixto (*) | São Paulo - 12/10/2015 - 06h00

Para Roz Hardie, forma como os meios de comunicação abordam temática favorece a proliferação de ideias que mulheres "desejam ou merecem violência"


 A exploração da imagem de mulheres na mídia é uma das preocupações da pesquisadora Roz Hardie, diretora da ONG britânica Object. Para a feminista, que participou do I Seminário Internacional Cultura da Violência contra Mulheres, a circulação de conteúdo que representa o feminino como objeto nos meios de comunicação favorece a proliferação de ideias que mulheres "desejam ou merecem violência".
"Não diríamos que objetificação sexual seja a causa da violência contra mulheres. Mas o que nós acreditamos de fato é que quando você começa a ver as mulheres como objetos, que servem simplesmente para o sexo, fica mais fácil justificar abusos e violências contra elas e pensar que isso de alguma maneira está correto", critica.
Nos meses que antecederam a Copa do Mundo de 2014, Roz Hardie pesquisou como as mulheres brasileiras eram representadas nos veículos de comunicação do Reino Unido. Em meio à preocupação com turismo sexual e abuso de crianças, relembra Hardie, aconteceram várias publicações que usaram representações estereotipadas das mulheres brasileiras, reforçando a ideia de que elas estariam "disponíveis aos turistas".
"Nesse contexto de preocupação sobre o turismo sexual, vimos algumas publicações fazerem piadas sobre turistas indo para praia apenas pelo desejo de olhar o 'bumbum' das mulheres brasileiras. Acreditamos que esse tipo de caso ajuda a configurar o esteriótipo que as mulheres brasileiras estão disponíveis, o que não é nada aceitável como algo que possa ser considerado sexy”, analisa.

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Para Roz Hardie, representação de mulheres como objeto nos meios de comunicação permite que sociedade naturalize violência
Hardie destaca que o trabalho desenvolvido pela ONG Object não tem como objetivo fazer campanha contra a liberdade sexual ou o sexo em si.
"Nossa campanha é para que possamos olhar a mídia e entender as relações de poder e as representações da mulher. Como sempre digo, a representação da mulher na mídia é uma parte do corpo da mulher que tem sido usado fora de controle. Em alguns casos mais extremos, podemos ver imagens que podem sugerir o uso da força ou degradação contra mulheres. É preocupante que esse tipo de conteúdo apareça em nossa mídia. Então é importante que a mídia pense em se comportar de outras maneiras possíveis", conclui.
(*) Entrevista de Carolina de Assis. 
Texto e Edição: Dodô Calixto.
Fonte: Opera Mundi

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