quinta-feira, 21 de agosto de 2014

QUANDO MARIA ERA CALADA



Joaquina Lacerda Leite

Quando Maria era calada
Muita gente a apreciava
Eram muito elogiados
Seus modos eram bem comportados.

Um dia Maria acordou
Do sono que a embalava
Olhou ao redor e notou
Que muita coisa estava errada.

Decidiu soltar a voz
Para criticar as injustiças.
Os amigos se afastando
Sentindo-se incomodados
Olhavam Maria assustados
Como se ela fosse um espantalho!

A perda dos velhos amigos
Foi sofrida para Maria
Mas viver acomodada
Já não lhe satisfazia.

Depois que Maria aprendeu
A dar asas à coragem
Não conseguia ficar muda
Em muitas situações.

Essa é a história de Maria
Que deixou de ser simpática
Pra se tornar militante.
Se essas Marias fossem muitas
Talvez não chocassem tanto
Suas falas dissonantes.

Mas há as Terezinhas
Que só pensam em pescar homem
Que possa lhe sustentar.
E nas festas que freqüentam
Só sabem falar de filhos
(Sempre os mais inteligentes!)
E das proezas do marido
(Sempre o mais bem sucedido!)

Há também as Marietas
Que gostam de trabalhar.
Defendem o próprio sustento,
E ainda cuidam do lar!
Quando lhes sobra um tempinho
Com os amigos vão badalar
Mas fora de seu mundinho
Nada consegue lhes interessar.

É por isso que as Marias
Que conseguem se libertar
Chocam tanto a freguesia
Nesta terra da Bahia.


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